O fraco desempenho das redes responsáveis pelo ensino médio no
índice que mede a qualidade educacional acendeu um alerta no Ministério da
Educação. Sete meses após a publicação das novas diretrizes curriculares do
ensino médio, o governo vai enviar ao Conselho Nacional de Educação (CNE)
propostas de planos para colocar as novas orientações em prática.
As sugestões do MEC eram aguardadas desde janeiro, quando a Resolução nº
2 do CNE foi aprovada. O documento que define os novos rumos para a pior etapa
da educação brasileira determina que o ministério enumere o que espera que os
estudantes do ensino médio aprendam. As propostas deveriam ser elaboradas após
a publicação das diretrizes, em parceria com os Estados e municípios.
Durante a divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(Ideb) 2011, na terça-feira, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante,
defendeu mudanças curriculares no ensino médio para mudar a triste realidade
dos jovens brasileiros revelada pelos números. Essa etapa teve o pior
desempenho no Ideb 2011, que varia de 0 a 10. O Brasil alcançou a modesta meta
global de 3,7, mas 11 Estados não atingiram as notas propostas para o ano passado.
Mercadante criticou a quantidade de disciplinas obrigatórias para os
estudantes do ensino médio e defendeu mais integração entre elas. Um tema
debatido à exaustão durante os últimos três anos pelo Conselho Nacional de
Educação e o próprio ministério. “Voltar a esse debate é contraproducente”,
avalia Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
Cara acredita que o MEC deveria ouvir os secretários de educação para
debater os resultados de experiências já em curso para mudar essa realidade.
Ele cita o ensino médio inovador, projeto piloto que começou a ser implantado
no final de 2009 em 357 escolas. As escolas participantes recebem verba do
governo federal para bancar projetos em que os estudantes tenham 20% mais tempo
de estudo com atividades culturais e recuperação de conteúdos.
A flexibilidade proposta pelo ensino médio inovador foi bastante
aproveitada pelo Conselho Nacional de Educação na elaboração das novas
diretrizes do ensino médio. O secretário de Educação Básica do MEC, César
Callegari, que já era conselheiro à época em que as primeiras discussões sobre
mudanças nessa etapa começaram, garante que o MEC não pretende reiniciar o
mesmo debate (temor de especialistas no assunto).
“Não é uma nova proposta. Não havia prazo, mas nós precisávamos enviar
essas orientações ao Conselho. Os resultados do Ideb forçaram o MEC a acelerar
esse processo. Queremos tornar ainda mais claras quais mudanças curriculares
esperamos das redes, visando o direito de aprendizagem dos alunos”, afirma.
Segundo Callegari, no próximo dia 21, o ministro Mercadante se reunirá com os
27 secretários estaduais de educação para discutir o tema.
Demandas
Na reunião com os gestores, o governo também quer debater outros temas
considerados essenciais para melhorar o ensino médio. A formação dos
professores, a organização curricular e os materiais didáticos são apontados
pelo próprio secretário como possíveis empecilhos para colocar o plano de
integração de disciplinas em prática. “A organização curricular é apenas um dos
pontos importantes para mudar o ensino médio. Mas não estamos falando de
diminuir disciplinas, porque há leis que exigem essa quantidade. A questão é
integrá-las”, diz.
As diretrizes curriculares ressaltam que “o currículo deve contemplar as
quatro áreas do conhecimento (linguagens, matemática, ciências da natureza e
ciências humanas), com tratamento metodológico que evidencie a contextualização
e a interdisciplinaridade”. O que não significa agrupar as disciplinas nessas
áreas. O presidente do CNE, José Fernandes Lima, defende uma avaliação das
experiências já em curso no País.
“Eu acho importante que os
resultados do Ideb sejam avaliados e o MEC procure acelerar o desenvolvimento
daqueles que não estão tendo sucesso. As diretrizes do ensino médio foram muito
discutidas nacionalmente e representam o que conseguimos de consenso. O que
falta é esse documento chegar às escolas”, defende Lima.
As novas diretrizes dão mais liberdade às redes para definir os
currículos e estimulam que isso se estenda aos alunos. As grades curriculares
podem ter focos, como trabalho, ciência e tecnologia e cultura. Parte da carga
horária deveria ser destinada a projetos encabeçados pelos próprios alunos e há
flexibilidade para organizar as disciplinas dentro desses projetos.
“Os estudantes já chegam ao
ensino médio com dificuldades anteriores, que levam alguns a desistir. A
divisão disciplinar é outro ponto de dificuldade dessa etapa, mas o agrupamento
de disciplinas tem um impacto muito sério na formação dos professores, que não
estão preparados para isso. O desafio não é simples”, ressalta o
vice-presidente do Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação
(Consed), Klinger Barbosa Alves.
A integração do ensino médio à educação profissional é outro ponto que
ele acredita ser importante nos debates sobre o futuro da etapa. “Algumas
mudanças podem ser rápidas, outras vão demorar”, diz
até parece que o pessoal realmente está preocupado com a educação no Brasil, deixa passar as eleições pra ver se é verdade.
ResponderExcluir