Quem estuda à noite ou trabalha em
shoppings, supermercados ou outros estabelecimentos que encerram suas
atividades bem tarde, frequentemente precisa “correr pra não perder o último
ônibus”, ou, pior… esperar até amanhecer para voltar para casa. Muitos, assim,
ficam dependentes do carro particular, ou de taxis, opção pouco viável em
função do custo, no cotidiano…
Muitas grandes cidades do mundo já contam com
sistemas de transporte público que funcionam de madrugada. Em Londres, as
linhas noturnas acompanham os trajetos do metrô, saindo da Praça Trafalgar. Em
Barcelona, os ônibus da madrugada funcionam da 23h às 6h e, de sábado para
domingo, não há interrupção na operação do metrô. Em Paris, um sistema noturno
opera das 00h30 às 5h30 e, em Medellín, 65 linhas funcionam das 22h às 4h. Em
Nova York o metrô não para, mas reduz o número de estações que ficam abertas.
Em São Paulo, o metrô fecha e apenas 98 linhas de
ônibus operam de madrugada. Mas a Prefeitura já anunciou que, a partir do
primeiro semestre de 2015, vai implementar uma rede de ônibus que funcionará de
madrugada, da meia-noite às 4h. A proposta é ampliar o número de linhas para
140 e organizar o sistema. Os ônibus da madrugada deverão percorrer os
principais eixos de transporte público da cidade (tanto nos corredores de
ônibus, quanto nos trajetos do metrô) e, também, circular no interior dos
bairros, com horários e intervalos fixos. Nos bairros deverão ser utilizados
veículos menores, como os que atualmente são empregados pelas cooperativas.
À imprensa, a Prefeitura afirma que a medida
beneficiará principalmente pessoas que estudam no período noturno, além de
trabalhadores e frequentadores de bares, restaurantes e baladas que funcionam
até tarde, em bairros como a Vila Madalena. Acredito, porém, que esses são
apenas uma parte dos beneficiados: numa cidade como São Paulo, muitos serviços
são realizados principalmente de madrugada (entregas, abastecimento de
comércio, entre outros), outros simplesmente não param (hospitais e aeroportos,
por exemplo), sem contar o grande número de pessoas que prefere “trocar a noite
pelo dia” pra evitar perder horas em deslocamentos no trânsito. Uma rede de
ônibus na madrugada, portanto, deve atender a necessidades mais amplas de
mobilidade na cidade.
Ao anúncio destas
mudanças somam-se os resultados da auditoria que a Prefeitura encomendou sobre
o transporte público de São Paulo, investigando os serviços oferecidos pelos
atuais concessionários e seus custos. Motivada pelas manifestações de junho de
2013 contra o aumento da tarifa, a auditoria mostrou, por exemplo, que 10,5%
das viagens que deveriam ser realizadas simplesmente não o são. Além de ampliar
e organizar a oferta de ônibus de madrugada, portanto, a cidade tem pela frente
um enorme desafio, que é desenhar um novo modelo de contratação das empresas,
revendo horários, frequências, custos e formas de fiscalização.
Ônibus de madrugada? Sim, vai ser muito bom se
tivermos. Melhor ainda se este for um dos elementos de uma nova pactuação com
as empresas prestadoras do serviço de transporte público, coisa que a cidade
está precisando fazer faz tempo!